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        Cabos: Uma Complexidade 
        Eletromagnética2º Parte
 
        Elétrica 
         Jorge
        Knirsch   
        Introdução
        
         No 
        último artigo, analisamos as três principais posições assumidas pelos 
        audiófilos com relação aos cabos: há aqueles, infelizmente a maioria, 
        que acham que os cabos não são importantes, pois crêem que eles não 
        influem no resultado final do sistema; por outro lado, há uma pequena 
        minoria que os consideram vitais, atribuindo a eles o mesmo peso que 
        conferem a qualquer um de seus equipamentos; e há ainda os que estão 
        numa posição intermediária, concedendo um certo valor aos cabos, pois 
        notam alguma influência no resultado, mas não entendem bem o porquê. 
        Dissemos que as principais razões para esses posicionamentos 
        desencontrados são: a grande diversidade dos equipamentos de 
        áudio/vídeo, os diferentes níveis dos sistemas (bronze, prata, ouro e 
        diamante) e, não raras vezes, a mescla de aparelhos de diferentes 
        categorias compondo um único sistema. Mostramos, através de um exemplo, 
        como o leigo pode ser levado a conclusões errôneas a respeito de cabos, 
        baseando-se unicamente nas experiências realizadas com o seu sistema. Ou 
        seja, enquanto esse amante do som não descobrir qual o elo mais fraco do 
        conjunto, poderá se equivocar, fazendo uma troca inadequada e aí... 
        acabará tirando conclusões errôneas e entrando por um galho do pinheiro, 
        ao “melhorar” o som e a imagem, mas... neste caso, estará adiando a 
        chance de caminhar em direção ao topo! É importante que cada um de nós, 
        amantes do som e da imagem, tenhamos uma consciência nítida de que o 
        nosso sistema, incluso a sala, é particular, único e limitado e que 
        também, por outro lado, sem a ajuda de informações válidas e eficazes, 
        não teremos condições de fazer os testes adequados, dentre os inúmeros 
        equipamentos possíveis, para a realização de um eventual “up grade”. E, 
        para piorar, muitas vezes esta dificuldade aliada à nossa falta de 
        conhecimento da música ao vivo, nos deixa sem um referencial fidedigno e 
        faz com que a tarefa de nos aproximarmos do topo do pinheiro seja quase 
        inacessível! Prosseguindo agora, vamos 
        fazer uma análise um pouco diferente dos cabos, trazendo também a vocês 
        as últimas novidades, publicadas pela AUDIO alemã sobre o assunto. Neste 
        artigo, apresentaremos uma explicação teórica para os desvios auditivos 
        existentes, falaremos a respeito dos três parâmetros mais importantes na 
        topologia dos cabos e, finalmente, daremos algumas dicas gerais para a 
        escolha de cabos.
 
        
        © 2004-2008 Jorge Bruno Fritz KnirschTodos os direitos reservados
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        Dois 
        fios e pronto: a conexão está feita! 
          A maioria de nós imagina que 
        dois fios de cobre, rígidos ou flexíveis, são perfeitos e que, 
        eletricamente falando, o sinal que colocarmos na entrada será o mesmo 
        que teremos na saída. Isto poderá até aparentar correto para distâncias 
        bem curtas. Mas, senhores, posso lhes assegurar que esta tese é um ledo 
        engano!Vamos pegar esses dois fios 
        de cobre, aumentar o comprimento deles, digamos para dez metros e fazer 
        medições ao longo da sua extensão. Logo iremos notar que, mesmo em 
        curtas distâncias, já começam a surgir pequeníssimas diferenças entre o sinal 
        de entrada e o sinal de saída. E, à medida que a distância aumenta, como 
        o nível do sinal de saída vai ficando cada vez menor e alterado em relação ao do 
        sinal de entrada, a defasagem, que no início era pequena, vai se 
        alterando ainda mais e os seus efeitos vão se tornando cada vez mais 
        audíveis! E isso tudo ainda depende da carga colocada! Quanto menor a 
        carga, mais corrente percorre o cabo e maior a alteração do sinal 
        original.
 Na faculdade de engenharia 
        elétrica existe uma cadeira chamada Linhas de Transmissão, onde 
        se estuda toda a problemática do transporte de energia elétrica através 
        de dois fios, a grandes distâncias, e todas as conseqüências que isto 
        acarreta à energia no seu destino. Este estudo normalmente é feito para 
        uma freqüência de 60 ou 50Hz, que é a freqüência normal das redes 
        elétricas pelo mundo afora! E agora, mais recentemente, surgiram as 
        linhas de transmissão em tensão extra-alta contínua, para minimizar 
        estes problemas (e...criar outros, mas isso é outra história!).
 
  Vocês 
        poderão me contestar, dizendo que este estudo só se aplica a longas 
        distâncias e não à nossa realidade do áudio e vídeo, onde normalmente 
        usamos apenas cabos de um, dois ou três metros. Devo lhes afirmar que os 
        efeitos nas Linhas de Transmissão são, evidentemente, bem maiores do que 
        os que ocorrem nos nossos pequenos cabos. Em sistemas de entrada, esses 
        efeitos não são nem perceptíveis. Porém, em sistemas ouro e diamante, 
        com a sensibilidade de um ouvido bem treinado (que, como vimos, pode 
        chegar a detectar diferenças de até 0,1 dB), as diferenças audíveis são 
        patentes! Observe que o cabo terá que transportar não apenas uma 
        freqüência, mas o espectro das freqüências audíveis, que vai desde os 20 
        até os 20.000Hz! Em vista disso, o estudo dos cabos precisa ser 
        seriamente aprofundado! E... está sendo!! Mencionei as linhas de 
        transmissão porque a base teórica lá aplicada é passível de ser aplicada 
        também aos nossos cabos. No artigo anterior, eu já traçava alguns 
        comentários, posicionado nesta visão e, que surpresa, por uma 
        coincidência impressionante a revista AUDIO alemã nos trouxe, agora no 
        mês de julho passado, um estudo pioneiro sobre cabos, que estou lhes 
        apresentando em primeira mão, baseado no mesmo princípio teórico 
        aplicado às linhas de transmissão! Quero aqui lhes mostrar este 
        princípio, de forma muito simplificada, devido à complexidade envolvida 
        no assunto, pois o seu cálculo só é possível de se realizar através de 
        sofisticados programas computacionais.
 
        
        Afinal o que queremos de um cabo? 
        A resposta a esta pergunta é 
        na verdade muito simples, mas, como veremos, de dificílima realização. 
        Queremos que saia exatamente aquilo que entrou! É tão simples assim!! Ou 
        seja, o sinal da entrada deve ser reproduzido na saída da mesma forma 
        como entrou, na mesma amplitude e com a mesma fase, em todas as 
        freqüências, sem retirar nem acrescentar nada. Em outras palavras, o 
        equilíbrio tonal é o parâmetro mais importante a ser preservado em um 
        cabo, fora as suas outras características, que também deverão ser 
        mantidas, como corpo harmônico, dinâmica e transientes. O equilíbrio 
        tonal pressupõe que os graves, médios e agudos sejam reproduzidos com a 
        mesma intensidade e com a mesma fase, para não criarem problemas com os 
        transientes e a dinâmica. Em resumo, um cabo deverá ser absolutamente 
        neutro! 
        Um 
        circuito 
        Em linhas de transmissão, 
        costuma-se pré-estabelecer uma certa unidade de comprimento, escolhida 
        de acordo com o que for mais conveniente no momento, para o estudo que 
        se queira realizar. Por exemplo, vamos supor que pretendamos implantar 
        uma determinada linha de transmissão numa certa região. Para tanto, 
        teremos que calcular toda esta linha. Vamos supor que adotaremos, como 
        nossa unidade padrão de medida, a distância correspondente a cem metros. 
        Poderemos representar esta unidade (cem metros) por um circuito 
        elétrico, cujos componentes deverão ter origem nas características 
        elétricas e físicas da linha. Agora, como provavelmente a nossa linha 
        deverá ter alguns quilômetros de extensão, teremos que colocar, no seu 
        modelo representativo, a somatória dos circuitos necessários, um 
        circuito após o outro, para reproduzir o comprimento total da linha que 
        desejamos implantar. E, a partir daí, calcularemos, através de um 
        computador, o resultado final desta linha.Da mesma maneira, isto 
        também, em menor escala, poderá ser feito para os nossos cabos. Só que, 
        aqui, a unidade de medida própria para o nosso circuito elétrico deverá 
        ser muito menor, girando de em torno de alguns centímetros ou até, quem 
        sabe, em torno de um metro.
 Vamos, agora, de forma bem 
        simplificada, montar este nosso circuito eletrônico, com seus 
        resistores, indutores e capacitores, todos esses elementos passivos, 
        evidentemente, e mostrar como identificá-los no nosso cabo.
 O primeiro destes elementos, 
        que iremos estudar, é a resistência ôhmica, que é, por incrível que 
        pareça, o fator mais importante na degradação da qualidade sonora, como 
        iremos verificar.
 
        A 
        resistência ôhmica de um cabo 
        Por princípio, um bom cabo 
        deverá ter a mais baixa resistência ôhmica possível, para se reduzir ao 
        máximo as perdas ao longo do caminho e para se evitar que outras não 
        linearidades sejam geradas. Para isso, o metal empregado deverá possuir 
        a melhor condutibilidade possível. Embora a prata, entre todos, seja o 
        metal que maior condutividade apresenta, como é muito cara, não tem sido 
        grandemente empregada. O cobre, que vem logo abaixo na condutibilidade, 
        por ter a vantagem de ser mais barato e apresentar menor oxidação, se 
        tornou o metal mais largamente usado na confecção dos cabos! No entanto, 
        como normalmente no seu interior são encontrados óxidos de cobre, que 
        são isolantes, ou melhor semicondutores, é de bom alvitre que sejam 
        eliminados. Assim sendo, os assim chamados cobre OFC (Oxygen Free 
        Cooper) e cobre OFHC (Oxygen Free High Cooper), isentos destes óxidos, 
        têm sido muito usados. Com isso, foi conseguida uma resistência ainda 
        menor! Alguns fabricantes têm empregado também ligas metálicas na 
        confecção de cabos, sendo que a liga prata-cobre é, entre todas, a mais 
        utilizada e a mais recomendada. Novas ligas estão sendo experimentadas, 
        mas como apresentam uma menor condutibilidade, teoricamente não são 
        recomendáveis, pois aumentam a resistência ôhmica. Como veremos, quanto 
        maior for a resistência, mais difícil será a fiel transmissão do sinal 
        original.
  A 
        resistência ôhmica, com um valor muito baixo, na casa dos miliohms, 
        deveria na verdade ser chamada de condutância (que é o inverso da 
        resistência, pois: baixa resistência = alta condutância), com unidade 
        dimensional Siemens, por simplificar a forma de se escrever e de se 
        discutir o assunto. Então, por exemplo, num cabo, a resistência de 
        20mmOhms/m representa uma condutância de 50Siemens/m e quanto mais alta 
        for a condutância, menor será a resistência do cabo. Porém o mercado não 
        aceitou este procedimento e continua a chamar de resistência este baixo 
        valor ôhmico. O maior problema da 
        resistência ôhmica de um cabo é que ela não é constante para todo o espectro dos 
        sinais de áudio e vídeo, devido ao seu efeito pelicular, também chamado 
        de efeito Skin. Ou seja, se usarmos dois fios rígidos, um positivo e 
        outro negativo, o efeito Skin causa um aumento da resistência à passagem 
        da corrente, à medida que a freqüência do sinal sonoro aumenta, e isto 
        trás, já de saída, uma não linearidade no cabo. Veja um exemplo na Fig. 
        1. Observe que, no eixo horizontal do gráfico, está o espectro do som, 
        que vai de 20 a 20.000Hz, perfazendo toda a gama das freqüências 
        audíveis para o ser humano. E, no eixo vertical, está a resistência 
        ôhmica do cabo à passagem do sinal destas várias freqüências. Verifiquem 
        que, no cabo deste exemplo, há uma menor resistência para a passagem do 
        sinal das freqüências mais baixas e uma maior resistência para a 
        passagem das freqüências mais altas. Imaginem agora como o sinal de 
        entrada deverá estar saindo deste cabo!
 Este é um dos principais 
        problemas a serem resolvidos, pois acarreta várias conseqüências de 
        difícil solução. Resumindo, um bom cabo deve apresentar a resistência 
        ôhmica mais baixa possível e esta deverá ser constante, 
        independentemente do valor da freqüência sonora do sinal.
 
         
         Fig.1-Variação, por metro, da 
        resistência ôhmica de um fio rígido, de 1mm2 de seção, em relação à 
        freqüência do sinal sonoro de entrada (à 20 graus C).   
        No intuito de manter a 
        resistência ôhmica constante, com relação à freqüência do sinal, os 
        fabricantes de bons cabos, ao invés de usarem um fio rígido para o sinal 
        positivo e outro para o negativo, usam dois conjuntos de fios de 
        diâmetros menores, rígidos também: um para o positivo e outro para o 
        negativo. Com isso, conseguem aumentar a relação entre a soma dos 
        perímetros dos fios e a soma das áreas das secções transversais desses 
        vários fios rígidos que compõe os dois conjuntos. Esta relação é de 
        fundamental importância, pois há um valor específico, ideal, para se 
        conseguir esta almejada linearidade da resistência ôhmica. Assim é que 
        foram criados os cabos que contém vários fios rígidos, inclusive com 
        diferentes diâmetros. Mas, na prática, é muito difícil de se conseguir o 
        equilíbrio concernente à linearidade da resistência com relação à 
        freqüência do sinal, uma vez que muitos outros fatores estão envolvidos. 
        É sabido que, quando um cabo tende ao fio Litz, fica com proeminência 
        nos agudos, normalmente por maior redução da resistência com o aumento 
        da freqüência e, quando tende a um fio rígido simples, fica com falta 
        deles e com excesso de graves. Na Fig. 2 você poderá ver o exemplo de um fio Litz, também de 
        1mm2, contendo mais de uma dezena de fios rígidos. Alguns fabricantes 
        também costumam recobrir com prata galvânica os vários fios de cobre, 
        tanto do conjunto positivo como do negativo, mas isto normalmente trás 
        uma descontinuidade no gráfico da resistência ôhmica em relação a alguma 
        freqüência do sinal, dependendo da profundidade pelicular, advinda da 
        camada de prata.Pela pesquisa realizada pela 
        AUDIO alemã, os cabos de caixas acústicas de entrada 
        apresentam resistência ôhmica (medida em DC) que pode variar de 5mmOhms a 
        50mmOhms por metro. Embora este dado não diga nada a respeito da 
        linearidade desta resistência, esta variação causa perdas de sinal. 
        Pelos critérios extremamente rígidos da AUDIO alemã, nenhum cabo de 
        caixa acústica deverá ser usado acima de um comprimento que cause uma 
        perda maior do que 0,2 dB do sinal de áudio, devido à sua resistência 
        ôhmica. E pasmem, pois estes comprimentos não são muito longos, 
        dependendo do cabo.
 
         
         Fig. 2 –Variação, por metro, 
        da resistência ôhmica em relação aos valores das freqüências sonoras, de 
        um determinado cabo Litz, de 1mm2 de secção, contendo mais de uma dezena 
        de fios rígidos finos (a 20 graus C).   
        As caixas acústicas com baixa 
        sensibilidade reagem mais intensamente aos parâmetros elétricos dos 
        cabos (resistência, indutância e capacitância - principalmente aos dois 
        primeiros), do que o fazem as caixas com alta sensibilidade. E nas 
        caixas onde ocorrem grandes variações nas suas impedâncias, em função da 
        freqüência, esta reação se torna ainda mais intensa.Quanto aos amplificadores de 
        potência, o comprimento dos cabos de caixa influi quando, por exemplo, o 
        aumento do comprimento do cabo comprometer amplificadores com baixo 
        fator de amortecimento. Cabos de caixa com alta indutância afetam 
        principalmente as altas freqüências. Já os cabos que possuem altas 
        capacitâncias, mesmo que afetem bem pouco o resultado sonoro, poderão 
        sobrecarregar as saídas dos powers e, em casos extremos, levar 
        até a uma eventual queima dos estágios de saída, mesmo em amplificadores 
        audiófilos. E isto é fato no mercado nacional, pois já ocorreu.
 
        
        Conclusão 
        Pretendia terminar o assunto 
        dos cabos nesta ocasião, mas como vocês puderam ver, parece que ainda 
        estamos iniciando, pois há muito mais a apresentar! Neste artigo, 
        comentamos que o modelo de cálculo usado nas linhas de transmissão é 
        aplicável aos vários tipos de cabos de áudio e vídeo. Definido um 
        circuito básico para uma unidade de comprimento do cabo, este circuito 
        deverá ser repetido tantas vezes quantas forem necessárias para 
        representar o comprimento total deste cabo. Quanto menor for esta 
        unidade de comprimento, menores serão os valores dos componentes 
        passivos e maior será a precisão da curva de transferência que o cálculo 
        computacional poderá apresentar, obtendo-se assim uma maior 
        correspondência entre a prática e a teoria. Analisamos aqui 
        primeiramente a resistência ôhmica de um cabo e o seu efeito Skin, 
        também chamado de efeito pelicular, sobre a variação da resistência com 
        relação à freqüência sonora. Comentamos que quanto menor e mais linear 
        for esta resistência em relação à freqüência, maiores serão as 
        possibilidades de neutralidade do cabo, aliada a outros parâmetros 
        importantes. Mostramos também que esta resistência, por unidade de 
        comprimento, define o comprimento máximo com o qual o cabo poderá ser 
        usado, pois não deverá ultrapassar uma perda maior do que 0,2 dB do 
        sinal, segundo a revista AUDIO. Mencionamos também, de forma bem geral, 
        a influência dos parâmetros de um cabo de caixas acústicas, tanto sobre 
        as caixas acústicas quanto sobre os amplificadores de potência.No próximo artigo, vamos 
        falar da indutância e da capacitância dos cabos, para em seguida 
        apresentar um circuito básico que possa representar o cabo como um todo.
 Coloco meu e-mail à disposição
        de vocês: jorgeknirsch@byknirsch.com.br
 
          
          Uma 
          excelente audição a todos, aquele abraço e até lá!! 
            
        
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