CABOS DE 
        ÁUDIO/VÍDEO
        Áudio 
        
        
        Carlos Alberto Santos Camardella 
        
        Introdução
        
        Pelo que pudemos verificar 
        em alguns dos excelentes artigos do amigo Jorge Knirsch: “Cabos:  
        Uma Complexidade Eletromagnética”.achamos 
        que esse assunto merecia que desenvolvêssemos 
        essa nova série de artigos, dividida em 7 partes (capítulos), tomando 
        este conceito como foco de convergência e análise. Esta série se 
        originou de uma compilação de diversas mensagens nossas enviadas a 
        alguns grupos e fóruns de discussão de áudio. Aqui, elas foram 
        reagrupadas, complementadas e concatenadas num encadeamento o mais 
        natural possível. 
        
        Nossa intenção foi tornar o texto o mais 
        simples e agradável possível, mas devido à complexidade dos temas, 
        muitas vezes fomos obrigados a recorrer a fórmulas não muito básicas. No 
        entanto, procuramos poupar o leitor das partes mais enfadonhas. O 
        resultado prático que queremos atingir é o de capacitar o leitor a 
        entender o que realmente acontece e, inclusive, capacitá-lo a prever, em 
        nível “macro”, o desempenho dos cabos. Com isto, ele poderá, pelo menos, 
        poupar seu tempo na hora de escolher entre vários cabos no nível 
        “micro”, uma vez que conseguirá prever, com razoável certeza, quais 
        realmente não lhe levarão aos resultados desejados. Assim, a quantidade 
        de testes a serem feitos se reduzirá a apenas os modelos que realmente 
        terão condições de lhe fornecer o desempenho desejado.   
        
        Ao longo desses capítulos, iremos tratar 
        de praticamente todos os aspectos que causam efeitos eletromagnéticos 
        nos condutores e cabos, com deduções de fórmulas, figuras 
        auto-explicativas e diversos exemplos reais. Dessa forma, acreditamos 
        que se possa desmistificar um pouco esse “mundo encantado dos cabos 
        audiófilos”. Também estamos preparando outros artigos que tratam da 
        estrutura dos materiais que compõem os cabos e conectores, de forma a 
        dar continuidade a essa série atual. 
        
        
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        PRIMEIRA PARTE: OS 
        METAIS 
        
        Carlos Alberto Santos 
        Camardella 
         
        
        INTRODUÇÃO
        
        Neste primeiro capítulo, nossa intenção 
        é demonstrar as possíveis diferenças que se pode conseguir na sonoridade 
        dos cabos de áudio, ao se usar apenas metais diferentes nos condutores. 
        Isto, sem levarmos em consideração os outros fatores importantes como 
        conectores, dielétricos, geometrias, etc. Constatamos que essa é uma 
        área muito “nebulosa” para o grande público e alguns fabricantes 
        aparentam se utilizar deste desconhecimento dos consumidores para 
        divulgar teorias que não parecem condizer com a realidade. Chegaremos a 
        conclusões muito interessantes... 
        
        O QUE ENTENDEMOS POR “CABOS IDEAIS” 
        
        O que, na verdade, deveria ser um cabo de 
        interconexão para equipamentos de áudio? Analisando o caso de power 
        integrado x módulos, um amplificador integrado, por exemplo, soa melhor 
        ou pior que um conjunto de pré + power ? Penso que um cabo ideal deveria 
        transformar os módulos pré + power... num power integrado !!! Ou seja, 
        ele deveria ter o mesmo comportamento eletromagnético de uma trilha que 
        interligasse os estágios dos circuitos impressos dos dois ou mais 
        módulos, caso eles "virassem" um equipamento integrado de apenas uma 
        placa, com todos os circuitos desenhados e os componentes instalados 
        nela. 
        
        No entanto, cabos são externos e, por isso, sofrem 
        com o meio ambiente. Seu comportamento eletromagnético também varia com 
        as soldas, além de variar com as interferências externas por EMI e RFI 
        (que deveriam ser barradas pela blindagem) e com as influências do calor 
        e da umidade. 
        
        O comportamento 
        eletromagnético também varia com a geometria, ou seja, se o cabo é 
        coaxial, paralelo ou trançado (twisted). A geometria é um dos fatores 
        que mais afeta a impedância característica dos cabos e este item, por si 
        só, mereceria um capítulo à parte! 
        
        Vamos pensar em um teste muito interessante, que eu 
        já fiz profissionalmente, cujo "setup" é o seguinte (Fig 1. abaixo): 
        (a) vamos pegar um cabo e desmontá-lo, separando o 
        condutor positivo (+) do condutor negativo (-), retirando blindagem e 
        dielétrico, mantendo-os bem distantes um do outro. Ou seja, a idéia é 
        temos dois cabos unidirecionais que serão formados somente pelos 2 
        condutores, um só positivo (+) e o outro só negativo (-),  sem interação 
        eletromagnética apreciável, pois estarão bem afastados e sem conectores;
         
        (b) como não há proteção alguma aos condutores, este 
        teste deverá ser feito em uma câmara anecóica para RFI e EMI, como a do 
        INPE (ela é anecóica eletromagneticamente falando, apesar de também ser 
        razoavelmente acusticamente anecóica); 
        (c) vamos colocar um gerador de sinais de muito boa 
        qualidade numa ponta do cabo (emulando um CD-player, por exemplo), que 
        tipicamente tem impedância de saída de 100 ohms, e na outra ponta um 
        resistor "audiófilo" não-indutivo de 100 kohm (emulando o 
        pré-amplificador ou amplificador com alta impedância de entrada). E 
        vamos monitorar o desempenho com um osciloscópio digital de pelo menos 
        50MHz. 
        
          
        
        Ao 
        contrário do que dizem algumas revistas e alguns fabricantes, o único 
        efeito que pode resultar dos condutores dos cabos, neste teste, é a 
        atenuação da resposta de freqüência, com relação às freqüências mais 
        altas, desde que estejamos tratando apenas do condutor em si, fabricado 
        com boa qualidade, esticado em cima de uma mesa de madeira, sem 
        conectores, nem soldas e não-oxidado. Essencialmente, seria o mesmo que 
        se usar um metal de granulação comum e de boa qualidade, mas fabricado 
        por equipamentos de precisão, pois a alta granularidade e as impurezas 
        equivalem eletricamente à oxidação, cujo efeito prático é o de alterar a 
        geometria do condutor que a corrente elétrica enxerga, mudando a 
        velocidade de propagação da onda e introduzindo distorções. É isso que 
        ocorre nos condutores de cabos de muito baixa qualidade. A culpa nem é 
        do metal em si, mas sim do fato do condutor ter sua tubularidade 
        alterada geometricamente ao longo de sua extensão, por falhas no 
        maquinário que o fabricou, ou por oxidação. Porém, se o metal for de 
        muito baixa qualidade, o que não é muito comum, o próprio nível de 
        impurezas altera sua geometria. Infelizmente, essa última afirmativa é 
        usada indiscriminadamente pelos fabricantes, que alegam que o alto nível 
        de pureza dos condutores de seus cabos é o que melhora o som, quando o 
        que melhora é a geometria correta do condutor e um bom dielétrico. Se a 
        tubularidade for ruim, o cabo vai ser ruim, independente do nível de 
        pureza do metal. 
        
        Por que esse teste? Ora, estamos aí com um sistema 
        analógico ideal, onde não há interação entre os condutores do cabo, não 
        há interferências externas ou internas ao cabo (o dielétrico é o ar) e a 
        carga (resistor) é a ideal para estar na saída de qualquer aparelho, 
        pois é de alto valor e somente resistiva, de baixo ruído térmico. 
        
        Com esse teste, prova-se que não existe essa história 
        de cabos melhores "de graves e médios" ou cabos melhores "de agudos", 
        devido ao emprego de MATERIAIS diferentes NOS FIOS CONDUTORES, pois a 
        resposta de freqüência é SEMPRE atenuada, quase que linearmente, quando 
        se aumenta a freqüência. O que muda, entre os diversos tipos de 
        condutores, é a curva de atenuação em si, de acordo com o material (ou 
        liga) do condutor, e com o seu diâmetro, comprimento, etc. 
        
        No meio da curva de resposta de freqüência de um 
        condutor NUNCA há saltos, picos ou vales. Ela é uma reta, que depois vai 
        decaindo, lentamente ou não, com o aumento da freqüência. Os metais 
        condutores, por si só, não são capazes de introduzir distorções 
        não-lineares !  
        
        E, se notarmos com cuidado o gráfico de referência 
        desse teste (abaixo), veremos que, mesmo no pior caso (Condutor 4), 
        estes materiais têm resposta plana até bem mais do que 100 kHz, se o 
        condutor tiver a geometria adequada. Qualquer limitação na extensão da 
        faixa de áudio (que morre em pouco mais de 20kHz) não poderá ser 
        imputada ao material (ou à sua pureza, ou tipo de ligas). Igualmente, no 
        caso de uma liga menos pura (Condutor 2), a resistência do condutor 
        aumentou para todas as freqüências, uma vez que a diferença de 
        condutividade dos dois materiais da liga não é suficiente para ter 
        impacto notável na resposta de freqüência, e isso explica alguns cabos "audiófilos" 
        cujo som sai mais baixo que o de outros... 
                    Abaixo, o gráfico de 
        referência dessa experiência: 
        
           
        
        Vejamos o outro gráfico abaixo, que analisa a queda 
        de potência em relação à freqüência, de acordo com a condutividade do 
        metal empregado. Temos abaixo os resultados que teremos ao montarmos 
        cabos que poderiam ser considerados “cabos para caixas”, com condutores 
        paralelos e rígidos (unifilares), com um design bem tradicional, AWG14, 
        com 3 metros de comprimento, dielétrico de Teflon, sem conectores, de 
        geometria rigorosamente igual, onde só os metais condutores são 
        diferentes. Para efeito do teste, os conectamos necessariamente a 
        uma carga não-indutiva de 8 ohms: 
        
          
        
        Dessa forma, fica bastante fácil reparar que, mesmo 
        numa configuração extremamente simplista, justamente no cabo de caixas, 
        que é o que mais “manhas” possui no ramo da audiofilia, a resposta de 
        freqüência é rigorosamente igual, ao se comparar os diversos tipos de 
        metal condutor, pois a queda de menos de 0,05dB na potência entregue às 
        caixas, na faixa entre 10kHz a 25kHz, já é impossível de ser notada 
        pelos ouvidos, quanto mais uma diferença de, no máximo, 0,02dB entre o 
        melhor metal condutor (prata) e o alumínio !!!  Porém, se analisarmos o 
        grafite, veremos que há uma queda quase linear de 5,2 dB na potência 
        transmitida, se comparado à prata, mas ele tem resposta ligeiramente 
        mais linear entre 10kHz e 25kHz, ou seja, é 0,05dB mais linear que os 
        outros metais, diferença para melhor, que é também inaudível, 
        obviamente. Podemos, então, considerar que a queda de 5,2dB se dá 
        praticamente em todo o espectro audível, logo a resposta de freqüência, 
        para qualquer critério prático em áudio, também é igual à dos outros 
        metais, porém com uma enorme atenuação: perde-se quase 3/4 da potência 
        do amplificador só no cabo !!! É por isso que se fazem cabos híbridos 
        (metal/grafite), pois nesse caso a queda de potência fica um pouco menor 
        que 3dB (perde-se quase metade da potência no cabo). 
        
        Donde se conclui que, em se tratando apenas do 
        material de que o condutor é formado (cobre, latão, prata, 
        carbono e suas ligas), teremos cabos melhores ou piores apenas de 
        agudos, e praticamente só na faixa ultra-sônica, devido somente aos 
        limites físicos da liga (sua pureza, por exemplo). Logo, podemos afirmar 
        que NÃO É POR CAUSA DO MATERIAL DO CONDUTOR QUE UM CABO VAI TER MENOS 
        MÉDIOS OU MENOS GRAVES, pois o material só afetaria, em tese, os agudos 
        ultra-sônicos (que não são audíveis, e isso quando o condutor é muito 
        ruim) e não altera a curva de resposta anterior à parte do gráfico onde 
        começa a atenuação!!! Logo, por causa do metal utilizado, os cabos não 
        podem ter "mais médios" ou "mais graves". Como eles só atenuam, podem 
        ter menos agudos, ou menos médios num pior e absurdo caso... Ou o som 
        pode sair todo mais alto, claro, num condutor de resistência menor! No 
        entanto, falhas do material podem provocar distorções, 
        devido principalmente à alteração do modo de propagação da onda elétrica 
        ao longo do cabo, mas isso não causaria picos ou vales na resposta, e 
        sim uma resposta mais “suja”. 
        
        Aliás, os graves de todos os condutores de mesmo 
        material deveriam ser iguais, pois essas freqüências são tão baixas que 
        não sofrem influência do material, nem de problemas de tubularidade 
        (geometria do condutor) ou de EMI / RFI. Digo “deveriam”, porque se a 
        resistência do condutor for mais alta, o que depende da pureza, 
        composição da liga, comprimento e geometria empregada para o metal 
        condutor, os graves até serão mais baixos do que os de outro condutor de 
        menor resistência, mas os médios e os agudos também, claro, pois o cabo 
        estará atenuando todo o espectro, devido à sua maior resistência ! 
        
        Obviamente que coisas como mau contato, soldas ruins, 
        etc., vão prejudicar os graves, mas estamos tratando somente dos 
        condutores bem fabricados e não do cabo pronto, nesta primeira parte. 
        É importante frisar que materiais altamente impuros (como cobre de baixa 
        qualidade), ou oxidados, equivalem ao resultado sônico de se ter um 
        mal-contato numa solda fria de conector, ou um conector oxidado, e um 
        efeito semelhante ocorre em condutores multifilares, quando comparados 
        aos condutores sólidos. Discorreremos mais sobre isso adiante  
        
        Logo, se não é o material dos condutores em si, com 
        certeza alguma outra coisa interfere para causar picos e vales no 
        espectro de resposta de um cabo. Na verdade, tal comportamento se deve 
        basicamente às interações eletromagnéticas, coisa muito negligenciada 
        por alguns fabricantes de cabos, justamente pelos que ficam orbitando 
        atrás de ligas estapafúrdias e explicações forçadas, acerca de efeitos 
        incríveis na camada eletrônica das ligas dos materiais, como o 
        cabo-diodo, o exagero no comprometimento pelo efeito de superfície (skin-effect) 
        e outras explicações baseadas em meias verdades, coisas que existem em 
        valores notáveis, apenas em freqüências, tensões ou correntes 
        estupidamente mais altas que as de um rélis cabo de interconexão de 
        áudio. E fazem isso, ao invés de aplicar as complicadíssimas (mas 
        funcionais) equações matemáticas de Maxwell e demais teoremas. O pior é 
        que essa última opção sairia muito mais barata, ou seja, uma correta 
        geometria, bom isolamento dielétrico e BONS CONECTORES operam milagres!
         
        
        Sempre é bom lembrar que conectores mal projetados 
        não só interferem no som, por causa de mau contato, mas também distorcem 
        o modo de propagação da onda eletromagnética que percorre o cabo (o 
        sinal de áudio), e isso inclusive pode trazer efeitos quanto à 
        velocidade de propagação das diferentes freqüências contidas no sinal!
        Exatamente por esse fenômeno é que todos os 
        conectores para RF são cilíndricos (RF = radiofreqüências – acima de 
        200kHz, indo até alguns gigahertz, onde os fenômenos eletromagnéticos 
        têm importância fundamental), justamente para manter a forma geométrica 
        do cabo coaxial na conexão e evitar distorções no modo de propagação. Ao 
        se alterar a geometria como, por exemplo, terminar um cabo cilíndrico 
        colocando-se um conector com único ponto de contato de terra ao invés de 
        um anel para esse fim, isto faz com que possa ocorrer uma distorção no 
        modo de propagação. Por isso, conectores com terminações do tipo “one 
        pin”, que são maciços e não em forma de anel  – como os da Eichmann - 
        vão contra a teoria eletromagnética convencional e contra a prática 
        vista em circuitos de RF. Por isso mesmo vemos que cabos famosos que os 
        usam não são coaxiais. Portanto, seu uso em cabos triple-balanced, 
        quad-helix, e outros, que não são coaxiais, é altamente recomendado, 
        pois são uma extensão natural dos condutores e não distorcem o sinal na 
        ponta do cabo. Já em coaxiais, eles introduzem distorções no sinal 
        propagado. E estas distorções podem ser interpretadas pelo ouvinte como 
        melhora ou piora de qualidade, por reforços e atenuações, ou mesmo delay 
        em determinadas freqüências (retardo de grupo), devido às reflexões que 
        ocorrem pela propagação distorcida do sinal.   
        
        Sobre os cabos de prata ou ligas com alto teor de 
        prata, é fato que só conseguiremos usar a prata com segurança, como 
        metal condutor, onde passarem correntes razoáveis, pois a prata oxida 
        rápido, não importando o tratamento dado a ela. Isso é fatal para um 
        fino interconect: em poucos anos (ou meses, se o cabo não for bem 
        vedado), seu cabo high-end já era, se torna um cabo apenas bom, 
        principalmente se for um cabo com condutor multifilar, ou seja, 
        não-sólido. Pelo que me consta, não se consegue limpar um cabo 
        interconect com Silvo, como se faz com os castiçais de casa! A prata 
        oxida muito mais rápido que o cobre, porém, ao contrário dos cabos de 
        cobre oxidado, os cabos de prata oxidada ainda continuam sendo bons 
        condutores. Trataremos disto mais adiante. 
        
        Algumas poucas implementações de cabos de caixa e AC 
        funcionam muito bem com prata. Às vezes, quando há banho de prata, estes 
        cabos se tornam até melhores que os de cobre, pelo isolamento que a 
        prata faz no cobre, em relação ao mundo exterior, desde que tais cabos 
        estejam sempre sendo usados. Se ficarem muito tempo sem uso, começa a 
        oxidação. O carbono puro também é um composto limitativo, com relação à 
        freqüência e de alta atenuação, mas não oxida fácil (assim como o cobre 
        OFC, se bem isolado do ambiente). 
        
        Aliás, a título de curiosidade, a famosa "solda de 
        prata" tem prata apenas para facilitar o fluxo, e fluxo era coisa que 
        meu avô usava em separado e ficava num potinho, pois as soldas antigas 
        não eram autofluxo como as de hoje. Ou seja, a prata, nas soldas, serve 
        somente para facilitar a soldagem, evitando-se "soldas frias" (a solda 
        de prata gruda mais fácil, principalmente em condutores de cobre 
        recobertos com prata, ou de prata e seus compostos, pois ela escorre 
        menos – pra quem gosta de termos audiotas, isso se chama "wicking effect", 
        ou em bom português, efeito de escorrimento...), mas à custa de se 
        precisar de uma maior temperatura para a soldagem, pois quanto mais 
        prata a solda contiver, maior terá que ser a temperatura, o que 
        inviabiliza seu uso em diversos componentes eletrônicos sensíveis ao 
        calor. A diferença de condutividade entre uma solda sem prata, uma com 
        2% de prata e outra com 20% de prata é totalmente desprezível, logo não 
        afeta o som "per se". Afeta, se for bem feita, como qualquer outra 
        solda. 
        
        É senso comum que o uso de 
        cobre OFC domina o mundo do áudio hi-fi, e é acompanhado pela prata e 
        pelo ouro. No entanto, muito se tem falado sobre as diferenças de 
        sonoridade entre cabos e conectores feitos desses diversos metais, e 
        seria interessante nos estendermos um pouco mais sobre esse fascinante 
        assunto. 
        
        Em primeiro lugar, todo 
        metal oxida, inclusive esses três mais famosos. Somente o nível de 
        oxidação e a natureza dessa oxidação é que variam bastante.  
        
        
        
        COBRE 
        
        A oxidação do cobre leva a 
        efeitos isolantes ou semicondutivos, ou seja, um conector de cobre 
        oxidado ou uma parte oxidada de um cabo de cobre se tornam péssimos 
        condutores para os sinais elétricos, podendo atuar até como um diodo 
        (nos dois sentidos da corrente, antes que se pense no famoso cabo-diodo) 
        ou isolante mesmo, sem condução. O uso de cobre OFC/OFHC (cobre sem 
        óxidos, com baixíssimo nível de oxigênio) reduz tremendamente a oxidação 
        natural desse metal, desde que, obviamente, ele permaneça isolado do ar. 
        Em contato com o ar, onde se encontram partículas de água (H2O) 
        e gás carbônico (CO2), o cobre geralmente oxida sua 
        superfície através da formação de um carbonato de fórmula CuCO3·Cu(OH)2 
        e cor esverdeada. Os cobres OFC/OFHC, apesar de serem muito mais puros 
        que as ligas tradicionais, ainda possuem em sua liga uma quantidade 
        muito pequena de enxofre (0,0015% no OFHC e 0,0020% no OFC). Por causa 
        da presença do enxofre, na forma de sulfeto cuproso (Cu2S), 
        mesmo com todos os cuidados, ainda aparecem, em contato com o ar, óxidos 
        como o CuO e Cu2O. Ou seja, por mais que se tome cuidado na 
        confecção do cabo, por não haver isolamento total do ar e devido à 
        presença de enxofre, o cabo de cobre vai oxidar com o tempo. Para se ter 
        uma idéia de seus efeitos, o óxido cuproso Cu2O chegou a ser 
        usado em um tipo de retificador, no início dos tempos da eletrônica, 
        fazendo às vezes dos diodos modernos, através da oxidação da superfície 
        de uma placa de cobre, gerando uma película de Cu2O que 
        atuava como uma junção P, e a placa como uma junção N, formando uma 
        junção P-N, como a de um diodo moderno, só que com tensão de ruptura de 
        quase 10V (o mais comum eram 6V), ao invés dos 0,3V dos diodos de 
        germânio e os 0,7V dos diodos de silício, e com temperatura de operação 
        mais baixa também. 
        
        
        
        PRATA 
        
        A prata é por um mínimo 
        valor mais condutiva que o cobre, pois sua resistividade é da ordem de 
        1,59 x 10-8 Ω m e a do cobre é ligeiramente maior, 1,67 x 10-8 
        Ω m. Num primeiro momento, a oxidação da prata leva a efeitos menos 
        danosos que a oxidação do cobre, pois o óxido que se forma em sua 
        superfície é ainda bom condutor (embora pior que o ouro e que o cobre em 
        bom estado). Mas, apesar de ser mais resistente à corrosão que o cobre e 
        menos que o ouro, a prata oxida muito mais rápido que ambos. A prata não 
        forma carbonatos, mas na presença de enxofre (que existe em boa 
        quantidade no ar das grandes cidades ou em locais onde chove muito) sua 
        superfície forma o sulforeto Ag2S pela reação 2 Ag + H2S 
        = Ag2S + H2, ou seja, como Ag2S (Argentite) 
        que é a forma básica que se encontra a prata na natureza, o cabo de 
        prata tende a voltar à sua forma original no planeta... Outro problema 
        sério dos cabos de prata ou com cobertura de prata é o níquel e o 
        alumínio presentes em quase todos os conectores, mesmo em alguns que se 
        dizem "puros". O Ag2S forma um catodo e o níquel/alumínio 
        forma um anodo de uma pilha virtual, na solda do conector com o 
        condutor, principalmente na presença de umidade, aparecendo um offset DC 
        que pode alterar bastante a sonoridade do equipamento, pois aparece uma 
        corrente catódica na junção condutor-conector. A isso chamamos 
        “incompatibilidade galvânica”. 
        
         Uma outra propriedade da 
        prata é sua sensibilidade à luz infravermelha, por presença de óxidos 
        AgO na sua superfície, mesmo estando protegida pelo isolante dielétrico 
        dos cabos, e por isso se deve tomar muito cuidado para não expor esses 
        cabos ao sol ou iluminação que contenha esse espectro luminoso. 
        
        
                     Quanto à compatibilidade 
        galvânica, todo metal possui uma característica de anodicidade ou 
        catodicidade, definida pelo que chamamos de potencial de eletrodo. Os 
        metais nobres, como cobre, prata e ouro são catódicos, já os metais mais 
        comuns, como o alumínio, o aço, o níquel e o cromo são anódicos. A 
        diferença de potencial que aparece na fronteira entre metais 
        galvânicamente diferentes leva a um fluxo de elétrons que forma o que 
        chamamos de corrente catódica. Geralmente, em presença da umidade, esse 
        processo se acelera.  
        
        
        Apenas como referência, vejamos a tabelinha 
        abaixo: 
        
          
          
            
              | 
              
              Metal | 
                | 
              
              
              Tipo | 
                | 
              
              
              Potencial de Eletrodo | 
             
            
              | 
              Ouro | 
              ...... | 
              
              Catódico | 
              ...... | 
              
              +1,680 | 
             
            
              | 
              Prata | 
              ...... | 
              
              Catódico | 
              ...... | 
              
              +0,800 | 
             
            
              | 
              Cobre | 
              ...... | 
              
              Catódico | 
              ...... | 
              
              +0,345 | 
             
            
              | 
              Níquel | 
              ...... | 
              
              Anódico | 
              ...... | 
              
              -0,250 | 
             
            
              | 
              Ferro | 
              ...... | 
              
              Anódico | 
              ...... | 
              
              -0,440 | 
             
            
              | 
              Cromo | 
              ...... | 
              
              Anódico | 
              ...... | 
              
              -0,710 | 
             
            
              | 
              Zinco | 
              ...... | 
              
              Anódico | 
              ...... | 
              
              -0,762 | 
             
            
              | 
              Alumínio | 
              ...... | 
              
              Anódico | 
              ...... | 
              
              -1,670 | 
             
           
          
         
        
         
                  
        Quanto 
        maior a diferença de potencial galvânico, obviamente maior será essa 
        corrente, a qual poderá causar problemas mesmo em equipamentos sem 
        acoplamento DC (por exemplo, aqueles com um capacitor de 2,2uF, ou 
        próximo disso, nas entradas de linha, ou seja, quase todos). No elo 
        entre amplificadores e caixas, o mal maior é a corrosão que sofre o 
        metal menos catódico. Isso porque as correntes que circulam já são por 
        si só bem altas, para que haja alguma apreciável interferência sonora 
        pela corrente catódica. Não são os mA dos cabos de interconexão...
        
         
        
        
                    Um exemplo do cotidiano é o aço 
        galvanizado, que nada mais é que aço recoberto com uma película de 
        zinco. Como o zinco é menos catódico, a corrente catódica protege o aço 
        e quem se corrói é o zinco, na presença de água ou alta umidade. Um dos 
        motivos de se pintar ferro com zarcão (que é feito de cromato de zinco) 
        é que ele atua da mesma forma que o caso do aço galvanizado. Por outro 
        lado, nunca se deve pintar quaisquer desses metais com tinta à base de 
        cobre, pois o efeito será justamente o contrário: como o cobre é 
        catódico, quem vai se corroer será o metal menos nobre, que é mais 
        anódico. Pela tabelinha acima, podemos notar facilmente que o único 
        material correto para um conector é o mesmo material do condutor. 
        Imagine, pela tabela acima, que beleza não seria a associação de um cabo 
        de prata pura com esses conectores niquelados de baixa qualidade, ou 
        pior, de cromo ruim mesmo. Em geral, o que os fabricantes chamam 
        de conector de prata pura é, na verdade, um conector de cromo 
        industrial, cujo potencial de eletrodo é muito próximo ao da prata, por 
        haver realmente prata em sua liga. Ele não tem o potencial do cromo 
        puro, outro material errado que se usa em conectores de baixa qualidade 
        junto com o níquel. E, nos melhores conectores para cabos de cobre, se 
        usa cobre puro como base, com um banho de cromo, ouro ou um composto 
        deles como proteção, em uma camada bem tênue, só para proteger o metal 
        base, ao evitar a oxidação e arranhões na estampagem do cobre.
         
        
        
        Conclusão 
        
        
                    Verificamos que o melhor material 
        para o conector é o do condutor mesmo, o problema é a oxidação 
        inevitável e a sua excessiva maleabilidade.  
        
        
                    Então, no caso dos cabos de cobre 
        para caixas, para os conectores/terminais pode-se até usar o cobre nu 
        mesmo, mas tem-se que dar um polimento leve de vez em quando. Geralmente 
        essa configuração fica melhor que com conectores soldados, no caso de 
        conectores esculpidos na ponta do cabo. Já o uso do fio nu dependerá 
        muito do receptáculo nos bornes do amplificador e caixas, e se for um 
        cabo multicondutor (ou multifilar) isso 
        geralmente não fica nada bom. Já cabos de caixas com conectores em prata 
        pura sofreriam com a excessiva moleza do metal, e se estragariam 
        facilmente, porém sua oxidação não causaria tantos transtornos como com 
        o conector de cobre, uma vez que já sabemos que o óxido formado é ainda 
        bom condutor (mas pior que o metal não-oxidado, claro). 
        
        
                    Outra constatação é que as diferenças sônicas entre os 
        cabos, quando novos, praticamente nada têm a ver com o tipo de metal 
        utilizado, a não ser em casos muito extremos. No que tange aos metais, 
        essas diferenças são em muito estimuladas pelas compatibilidades ou 
        incompatibilidades entre os metais dos condutores, dos conectores e os 
        compostos das soldas. 
          
        
        
        
        
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