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VOCÊ OUVE, O QUE NÃO OUÇO... EU OUÇO, O QUE VOCÊ NÃO 
OUVE.... 
Acústica 
A  CIÊNCIA  REVELA  NOVOS  ASPECTOS  SURPREENDENTES  DA NOSSA  AUDIÇÃO. 
Introdução  
        
 
Por que bons sistemas de áudio, que apresentam 
apenas pequenas diferenças mensuráveis nos parâmetros eletroeletrônicos, têm 
sido subjetivamente avaliados pelo grande público com 
pareceres tão controversos? Por que o som tem sido avaliado com opiniões tão diferentes e 
até mesmo antagônicas? Por que a discussão em torno do som correto excita tanto os 
ânimos e provoca embates tão acalorados? Que fatores nos levam a decidir se um som nos agrada ou 
não? Será que o que gostamos é devido a um costume ou a um hábito?De acordo com pesquisas 
internacionais, grandes são os avanços tanto na parte de avaliação sonora 
de equipamentos e sistemas, como também na área da percepção humana da audição. 
Estes dois campos da ciência, embora muito distintos, estão intimamente 
correlacionados como veremos neste artigo e nos próximos.
 Lendo várias revistas 
internacionais do ramo, tenho me deparado com diferentes pesquisas e 
novidades que pretendo apresentar neste artigo. Vamos relatar um pouco destes 
novos conhecimentos, procurando contribuir com o nosso mercado brasileiro, 
imobilizado pela sua situação econômica e cada vez mais restrito a um grupo 
menor de audiófilos e melômanos.
 Começando a história lá 
trás, no século retrasado, em 1863, foi publicado o livro “As Sensações 
dos Tons em Base Psicológica para a Teoria Musical” de Herman Ludwig 
Ferdinand Von Helmholtz (1821 a 1894), físico e matemático alemão, nascido 
em Potsdam, Alemanha. Helmholtz apresenta no seu livro um estudo sobre as diferenças da percepção humana 
com relação aos sons e aos tons musicais. Através deste estudo, o autor levantou 
a hipótese da provável existência de dois grandes grupos de ouvintes: os 
sintéticos e os analíticos.
 Na época, estas 
colocações de Helmholtz não levantaram muita discussão, face aos vários 
aparelhos acústicos que estavam sendo por ele apresentados nesta mesma obra, 
como o famoso absorvedor que leva hoje seu nome, também chamado 
absorvedor de volume, grande novidade na época. Mas, a partir do século passado, 
várias universidades pelo mundo a fora começaram a aprofundar os estudos sobre a 
percepção humana de sons, iniciados por Helmholtz.
 Nos porões do 
Departamento de Neurologia da Universidade de Heidelberg, Alemanha, o Dr. Peter 
Schneider, da Seção de Biomagnetismo conseguiu mostrar, em conjunto com 
cientistas das Universidades de Liverpool e de Southampton, na Inglaterra, 
através de diversos experimentos médicos auditivos e físicos, que realmente os 
seres humanos escutam de forma muito diferente os mesmos sons e tons. E hoje 
está comprovado o fato da percepção auditiva humana ser extremamente 
diferenciada para cada indivíduo.
 Estes novos 
conhecimentos estão levando a uma revisão dos conceitos de avaliação sonora de 
equipamentos eletrônicos que vamos expor em outra oportunidade.
 
        
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Os Sintéticos e os Analíticos  
        
As pesquisas do Dr. Peter 
Schneider vieram confirmar as suspeitas do cientista alemão Herman Von Helmholtz, 
há mais de um século atrás, de que há realmente dois grandes grupos humanos 
quanto à percepção auditiva. Ele os designou como os ouvintes das 
fundamentais e os ouvintes dos harmônicos. Neste artigo, para 
simplificar, vamos denominar os dois grupos como Helmholtz os definiu 
originalmente no seu famoso livro, ou seja, o grupo dos ouvintes sintéticos, 
que sintetizam o som em torno da sua fundamental e o dos ouvintes analíticos, 
que se orientam em torno de harmônicos do som.Como as pesquisas mostraram, nenhum destes dois grandes grupos ouve melhor ou 
pior, um em relação ao outro. Constatou-se que a forma de ouvir também não 
depende do sexo, raça, profissão, idade ou musicalidade pessoal. Descobriu-se apenas que estes 
dois grupos simplesmente ouvem de forma diferente um do outro, como veremos 
adiante.
 Todo som é constituído 
por uma fundamental e seus harmônicos, onde os harmônicos são ondas senoidais em 
freqüências múltiplas da freqüência da onda senoidal fundamental.
 
  
   
 
          O grupo dos 
sintéticos ouve e se orienta mais pelas freqüências fundamentais dos sons, 
enquanto que os analíticos ouvem e se orientam mais pelos harmônicos.Acreditava-se, até 
há pouco 
tempo que, quando um som fosse emitido sem a sua fundamental (por exemplo, 
a reprodução de um som grave em uma caixa acústica), a audição humana teria a 
capacidade de reconstituir, durante a própria audição, esta fundamental faltante e, 
desta forma, escutar o espectro inteiro do referido som. No entanto, os novos 
testes demonstraram que somente os ouvintes sintéticos têm esta capacidade de 
reconstituir a fundamental de um som. Os analíticos, como baseiam sua audição 
nos harmônicos, não reconstituem a fundamental.
 Existe uma escala para 
classificar os indivíduos de cada grupo. Para os sintéticos a escala vai 
de 0 até -1, sendo que os “sintéticos -1” são os que mais se orientam pela fundamental. 
Para os analíticos, a escala vai de 0 a +1, sendo que os “analíticos +1” 
são os que mais se orientam pelos harmônicos de ordem superior. Portanto, sintéticos e 
analíticos se encontram apenas em 0. É importante frisar que cada pessoa se 
situa em alguma posição nesta escala de -1 a +1. No meu caso, por exemplo, sou 
sintético -0,2. As pessoas, embora estejam em diferentes posições na escala, não 
necessariamente ouvem melhor ou pior, umas em relação às outras, mas 
simplesmente cada uma ouve de uma maneira específica, diferente das demais. A 
percepção musical pode ser muito diferenciada. Por exemplo, há pessoas que podem 
ouvir os mesmos sons até a uma altura de quatro oitavas acima em relação ao que as 
outras ouvem!
 O gráfico abaixo 
apresenta a distribuição das pessoas, na escala de -1 a +1, que a universidade 
de Heidelberg tem levantado. Curiosamente, ele indica que a maioria das pessoas 
está concentrada nos extremos. Ou seja, grande parte dos sintéticos está entre 
-1 e -0,5 e grande parte dos analíticos entre +0,5 e +1. 
Este fato já explica, em parte, porque diferimos tanto na percepção musical dos 
sons, já que a maior concentração das pessoas está nos extremos da escala.
 
 
 
          Estes fatos têm levado 
a novas descobertas muito interessantes para a avaliação de equipamentos sonoros 
na 
mídia internacional. Inicialmente, foram realizados testes de audição nos 
revisores de audição crítica (RAC) de equipamentos das revistas estrangeiras 
especializadas e se 
constatou que os revisores mais neutros encontram-se entre as pessoas sintéticas e analíticas que estão situadas mais perto do 
centro do gráfico. Esta constatação levou a mídia internacional de áudio a 
sentir a necessidade de realizar testes auditivos nos candidatos a revisores de 
audição crítica. E a partir dos resultados obtidos é que ela tem feito a seleção das 
pessoas auditivamente mais apropriadas para RAC, para integrarem parte do seu corpo 
editorial.Mas as descobertas não 
param por aí! A Universidade de Heidelberg, realizou exames de espintomografia 
nuclear do cérebro humano, para mostrar a anatomia do córtex direito e esquerdo 
onde ocorre a percepção musical. Também foram realizados exames de magnetoencefalografia para determinar as correntes elétricas no córtex direito e 
esquerdo no cérebro. Os resultados obtidos são surpreendentes. Mostram que, nos 
ouvintes sintéticos, a 
massa cinzenta do córtex esquerdo (na parte responsável pela audição), é maior do que a do 
lado direito, enquanto que os ouvintes analíticos possuem o lado direito mais 
desenvolvido. A corrente elétrica também é maior do lado esquerdo nos sintéticos 
e, nos analíticos, é maior do lado direito. Inclusive, músicos profissionais 
também podem ser classificados em sintéticos e analíticos. Apesar de terem maior 
quantidade de massa cerebral nas regiões responsáveis pela percepção musical, as 
proporções do lado esquerdo e direito são semelhantes ao que ocorre nos não músicos,  
tanto sintéticos quanto analíticos,dependendo de que tipo de ouvinte o músico é.
 O córtex do lado esquerdo, mais desenvolvido nos sintéticos, é muito sensível a rápidos impulsos de som, 
principalmente aqueles que não ultrapassem os 50ms de duração. Sons ritmados são 
uma preferência dos sintéticos, enquanto que pulsos mais longos são uma 
preferência dos analíticos, cujo córtex direito é mais desenvolvido, como vimos. 
Portanto, sons mais longos, mais melodiosos são mais bem percebidos pelos 
analíticos. Não devemos esquecer que a altura dos sons pode variar, ficando em 
torno da fundamental para os sintéticos e, para os analíticos, podendo ir até a quarta oitava de 
harmônicos acima da fundamental.
 Estas diferenças são marcantes e explicam também a preferência distinta por 
instrumentos musicais entre os dois grandes grupos. Enquanto os sintéticos dão 
preferência a instrumentos de percussão, guitarra, piano, e instrumentos de 
sopro alto como trompete e flauta transversal, os analíticos dão preferência aos 
instrumentos de cordas, como as  violas, aos instrumentos graves de sopro, 
aos órgãos 
e ao canto. Mesmo na maneira de 
tocar instrumentos, foram percebidas diferenças entre os analíticos e os sintéticos. 
Enquanto os sintéticos valorizam o ritmo da música, os analíticos valorizam a 
melodia musical.
 É interessante notar que, como há uma divisão de preferências de instrumentos 
entre os dois grupos, podemos identificar suas posições também pela localização dos instrumentos dentro de uma orquestra 
moderna. Assim, do lado esquerdo da orquestra estão normalmente os instrumentos 
dos sintéticos, como por exemplo, os instrumentos de percussão, o piano, os altos 
violinos. Curioso o que as pesquisas também mostraram, que a maioria dos maestros pertence ao grupo 
dos sintéticos. Do lado direito, o lado dos analíticos, estão instrumentos como 
o baixo violino, a viola, o violoncelo, o contra-baixo, a tuba, o saxofone, a 
flauta, o fagote, o oboé, e também o coral. Assim, não é de se estranhar 
que as principais diferenças estão na faixa de freqüências que vão até 1.500Hz. 
(O grave vai até 160Hz e o médio até 1.300Hz)
 E as descobertas ainda 
não param por aí. Tem mais!!
 Realizou-se uma 
pesquisa, entre os dois  grupos, quanto à preferência de marcas de equipamentos de reprodução eletrônica de 
música, como caixas acústicas, toca-discos, CD-Players, integrados, receivers, 
amplificadores de modo geral e se chegou a resultados 
surpreendentes. Existe, por incrível que pareça, uma correlação 
biunívoca entre marcas e tipos de equipamentos de áudio e a pontuação entre  
sintéticos e analíticos. Assim, por exemplo, uma caixa acústica de uma certa 
marca é preferência dos sintéticos que obtiveram, digamos, uma pontuação na escala em torno de -0,5. 
Aprofundando a pesquisa, verificou-se que os projetistas destas mesmas 
caixas acústicas, daquela determinada marca específica, também pertencem ao mesmo 
grupo, ou seja, ao grupo dos ouvintes sintéticos -0,5. Outro exemplo, 
verificou-se que um integrado 
de uma certa marca, preferido pelos analíticos +0,7, foi projetado por pessoas 
também 
pertencentes ao mesmo grupo de ouvintes que contém o grupo consumidor (+0,7). Existem, portanto, 
marcas de aparelhos sintéticos e analíticos para todas as faixas de ouvintes e 
para todas as graduações.
 O alcance destas descobertas trará uma grande 
mudança no marketing e no projeto de equipamentos de áudio, cuja 
extensão ainda não dá para visualizar totalmente hoje.
 
Conclusão  
         Apresentamos as últimas 
descobertas no campo da percepção musical humana, onde encontramos ouvintes 
sintéticos e analíticos. São dois grandes grupos, que ouvem simplesmente de 
forma diferente, independente da idade, sexo, cor, etc. Mostramos que, 
segundo 
levantamentos estatísticos realizados, a maioria dos sintéticos e dos analíticos 
se encontra nos extremos de uma escala, que vai de -1 a +1, por motivos ainda hoje desconhecidos. Dissemos que foi 
constatada uma correlação entre os instrumentos escolhidos pelos músicos e 
o grupo a que eles pertencem como ouvintes. Inclusive, foi interessante notar que a divisão do córtex 
cerebral, nos analíticos e sintéticos, corresponde com a divisão e colocação dos instrumentos em uma 
orquestra moderna.Estamos diante de novos 
conceitos de audição que nos levam a antever mudanças significativas à nossa frente. Com 
certeza influenciarão nos projetos dos aparelhos e também no marketing das 
empresas de áudio mundo afora. Por outro lado, as pesquisas não têm parado por aí, 
estão 
continuando intensamente. É provável que nossas tendências musicais já sejam 
pré-programadas geneticamente e estudos neste sentido estão em curso.
 Hoje 
podemos 
realizar testes e verificar se somos sintéticos ou analíticos. A partir daí, já 
podemos indicar quais as marcas de equipamentos de áudio que correspondem à 
preferência de cada um de nós, ou seja, quais as que mais irão nos agradar. 
Isto, sem dúvida, simplificará a escolha e a compra 
dos equipamentos, tornando-a mais objetiva. A montagem de um sistema de áudio com este processo fica muito 
facilitada. Pergunto: que tipo de ouvinte você é?
 Aquele abraço a todos!! 
E até a próxima!!
 
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