| SALA VIVA - SALA MORTA - SALA SECAQual a melhor sala para se ouvir música?
 2ª. Parte
        Acústica 
        
        Introdução
                 
        No artigo anterior, havíamos estudado 
        alguns aspectos importantes referentes às ondas sonoras, pois estas são as nossas 
        principais ferramentas em toda audição e reprodução musical.Neste artigo, pretendemos definir 
        e estudar um dos parâmetros mais importantes da acústica, que é o
        Tempo de Reverberação (RT = Reverbaration Time), cujos primeiros 
        estudos quantitativos foram realizados pelo americano Wallace Clement Sabine, a 
        menos de cem anos atrás. Mostraremos a sua influência na audição, para em 
        seguida adequá-lo às diversas salas existentes. Iremos 
        definir os vários tipos de salas, as vivas,  as mortas (também 
        chamadas salas surdas pelo pessoal de gravação), e as salas secas, 
        para em seguida verificarmos qual delas é a melhor opção para nós.
 Muito temos lido na Internet 
        sobre o assunto. Além disso, temos realizado várias pesquisas no nosso Laboratório de 
        Acústica e Áudio. Interessante que, navegando, encontramos um site 
        (do Clube de Audiofilia de Atenas, na Grécia: Audiophile 
        Club of Athens,
        
        http://aca.gr) que 
        mostra pesquisas semelhantes às nossas e eles também chegaram a constatações que 
        levam a uma direção muito próxima da nossa. Isto muito nos animou, pois 
        apesar dos excelentes resultados auditivos que temos obtido, temos 
        feito algumas constatações diferentes daquelas largamente publicadas na 
        Web e aceitas no nosso meio audiófilo. Pretendemos torná-las públicas, nesta série, 
        para gerar uma discussão em torno do assunto, pois os resultados são 
        surpreendentes.
 Vamos analisar também o que vem a 
        ser conforto auditivo, como alcançá-lo, e quais as 
        suas conseqüências para o nosso emocional.
 
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 http://www.byknirsch.com.br
 
        Tempo de Reverberação 
        
         O dicionário define reverberação como sendo sinônimo de reflexão. 
        No meu entender, reverberação significa múltiplas reflexões. Tempo de 
        reverberação é o tempo que um determinado som permanece audível, em um 
        dado ambiente, desde a sua emissão até o momento exato em que deixa de 
        ser perceptível. Quando emitimos um som forte e instantâneo, em um dado 
        ambiente, como um tiro, por 
        exemplo (somente ilustrativo),  as ondas 
        sonoras (que são esféricas), batem em todas as superfícies da 
        sala, refletindo-se e permanecendo audíveis durante um 
        certo tempo, até se extinguirem. Tempo de reverberação também pode ser entendido como o 
        tempo necessário para que uma energia sonora emitida em um ambiente seja 
        totalmente absorvida por ele. Este tempo pode variar de 0 (zero) a vários segundos. No 
        espaço livre, sem paredes e sem reflexões, o tempo de reverberação é nulo e 
        representa o que chamamos de ambiente anecóico. Uma 
        câmera anecóica, portanto, é um ambiente com forte tratamento acústico, onde o 
        tempo de reverberação é nulo em todo o espectro. Vemos o oposto disto acontecendo, por exemplo, em uma grande igreja 
        ou templo, como a 
        Igreja Nossa Senhora Aparecida, em Aparecida do Norte, no Estado 
        de São Paulo, que apresenta tempos de reverberação bem altos, 
        em torno de vários segundos. 
  Uma forma simples e rudimentar de verificarmos o tempo de reverberação 
        de um certo ambiente, uma sala, por exemplo, ou um quarto, ou cada um 
        dos outros ambientes de nossas residências, é batermos palmas nos 
        recintos em questão e estimarmos o tempo que leva desde o instante da 
        emissão do som até o instante em que deixamos de ouvi-lo “ecoar” ou se refletir naquele ambiente. 
        (Coloquei “ecoar” entre aspas, pois tecnicamente não ocorre um eco, 
        embora 
        popularmente o significado seja este a que nos referimos). Isto nos dará uma idéia e 
        permitirá comparar os diversos  tempos resultantes. A grosso modo, 
        obteremos os 
        tempos de reverberação dos vários ambientes. Há vários sites 
        na Internet que nos orientam a realizar testes para diversos ambientes. É só vocês 
        entrarem no
        
        www.google.com, colocarem Reverberation Time e 
        começarem a investigar 
        os vários sites existentes, os quais apresentam diversas experiências e testes que 
        vocês poderão realizar. É muito interessante e é muito bom adquirirem um 
        pouco de experiência a respeito deste tipo de avaliação, pois vamos utilizá-lo intensamente 
        daqui para a frente.
 Agora que vocês já têm alguma 
        experiência, vejam dois fatos muito interessantes e importantes. O primeiro é que, 
        dependendo do lugar onde vocês forem bater palmas, dentro da sala, o tempo 
        de reverberação poderá mudar. Esta variação vai depender das paredes e dos móveis que 
        estiverem mais próximos, ao seu redor. A rigor, para cada posição 
        espacial do ambiente, poderá existir um novo tempo de reverberação. 
        Portanto, o tempo de reverberação que você estiver definindo tem que 
        estar 
        associado àquela posição espacial onde o teste está sendo realizado. 
        Este aspecto é muito importante e não poderá 
        ser esquecido na análise acústica do ambiente.
 O segundo fator importante é 
        que o tempo de reverberação normalmente varia com a 
        freqüência do som dentro do espectro sonoro. O tempo de reverberação 
        nas baixas freqüências, ou seja, nos 
        graves, pode ser muito diferente do encontrado nas médias freqüências e 
        também bastante diferente do obtido nas 
        altas freqüências. Daí resulta uma infinidade de curvas advindas dos 
        vários tempos de 
        reverberação (nas ordenadas, em segundos), em função do espectro das 
        freqüências sonoras emitidas (nas abscissas). Normalmente o eixo das abscissas, quando 
        representa as freqüências sonoras, é um eixo logarítmico, como se vê na 
        figura abaixo (aproximado). Devido a estas variações, o que normalmente se faz, num 
        tratamento acústico, é otimizar o tempo de reverberação para uma certa região da 
        sala, onde preponderantemente ficarão os ouvintes.
  Como 
        vocês podem perceber, o tempo de reverberação é um parâmetro importante 
        e pode ser muito complexo.
 Estudá-lo profundamente é uma das 
        premissas fundamentais para que possamos entender o processo acústico que 
        ocorre em nossas salas.
 
          
          
        Tempo de 
        Reverberação: Um Pouco de Teoria 
                 
         
         Os técnicos definem tempo 
        de reverberação como sendo o tempo em que o término de uma emissão sonora cai a um 
        milionésimo da sua intensidade inicial. Também é definido como o tempo 
        necessário para que um som, emitido com 0 dB de intensidade, caia a -60 dB, 
        o que corresponderia ao espaço de tempo entre a emissão de um som na sua 
        intensidade máxima (0 dB), até o momento em que sua queda auditiva tenha 
        chegado a um milionésimo daquela intensidade máxima inicial (-60 dB). As duas definições são, na realidade, idênticas, 
        sendo que a segunda utiliza a escala em Bel. É por isso que o tempo de 
        reverberação é apresentado pelo símbolo 
        RT60 
        (que representa o tempo decorrido em 
        segundos até atingir menos 60 dB). Passaremos 
        a usá-lo daqui para frente.Pode-se encontrar também, na 
        literatura técnica, símbolos colocados na forma de RT125,
        ou RT500,
        etc., que representam cada um 
        dos tempos de 
        reverberação 
        
        nas respectivas freqüências indicadas.
 É possível, à partir da fórmula do 
        Tempo de Reverberação de Sabine, ou da fórmula de Eyring, calcular teoricamente o 
        RT60 
        
        de um ambiente, com boa aproximação ao 
        resultado obtido pela medição prática. Contudo, a nossa intenção aqui 
        não é entrarmos na parte do projeto propriamente dito, mas sim 
        pretendemos dar uma orientação muito segura 
        quanto às principais 
        características que uma sala precisa apresentar para que tenhamos a 
        melhor reprodução possível.
 Importante é ter em mente que o RT60
        depende fundamentalmente de 
        dois parâmetros, a saber: do volume livre da sala (V ) e do valor de absorção 
        sonora total desta sala (ΣΑ ). A absorção sonora vai depender tanto das superfícies das paredes, do piso e 
        do teto, 
        quanto das portas, janelas, móveis e também dos utensílios que 
        estejam no interior da sala. Podemos representar tudo isto, de acordo 
        com a equação simplificada de Sabine, da seguinte maneira:
 
        
RT60
= K•V/ΣΑ Onde K representa uma 
        constante que depende do sistema métrico usado, o 
        V é o volume livre da sala e o 
         
        ΣΑ  
        é o valor de absorção sonora total 
		das superfícies 
        desta sala. Portanto, quanto maior for o  
        ΣΑ, 
        ou seja, quanto maior for a absorção sonora da sala, menor será o RT60
        em segundos, pois a reflexão 
        será drasticamente reduzida. E também, por outro lado, quanto mais 
        reflexivas forem as superfícies, mais baixo será o valor de absorção sonora total 
        da sala  
        ΣΑ, 
        o que tornará os valores de RT60
        cada vez mais altos. Estes cálculos são 
        bastante trabalhosos, pois precisam ser feitos para cada superfície 
        da sala e também para todas as freqüências sonoras. Quanto ao volume, 
        temos que quanto maior for a sala, 
        maior será o seu tempo de reverberação.
  Mais adiante iremos fazer análises mais detalhadas. Como um milionésimo da intensidade inicial de um som é um volume sonoro muito 
        baixo, já no nível do ruído normal de uma sala, fica muito difícil 
        podermos medir o 
        tempo de reverberação com alguma precisão. Foi adotada, então,  
        a medição do RT30, para se chegar ao
        RT60 
        da sala, ou seja, medimos 
        inicialmente o tempo que o impulso sonoro leva para cair à milésima 
        parte da sua intensidade inicial
        e, a seguir,  
        multiplicamos este valor 
        por 2 (dois), porque a escala é logarítmica, para então, chegarmos ao 
        RT60.
 O tempo 
        de reverberação também pode ser definido como -10dB (= queda de 10% da intensidade inicial), RT10, 
        que multiplicado por 6 (seis) é comparável com o RT60. 
        A partir de agora, vamos chamar RT10 
        X 6 de 
        "Tempo do Primeiro Caimento" ou "EDT" (Early Decay Time).
 O EDT 
        é muito importante em salas de concertos, como vamos ver adiante. O 
        gráfico acima apresenta o decaimento da intensidade de um som, emitido 
        em 60dB, em 3 salas de concertos diferentes, mas que possuem um mesmo 
        RT60. Como 
        se pode ver, dependendo dos 
        diversos aspectos construtivos de cada sala, 
        o decaimento da intensidade do som segue uma curva específica, onde 
        observamos diferentes EDT para um mesmo RT60.
 Vejam, no eixo das ordenadas, a intensidade 
        sonora do impulso, que no caso é 60dB e, no eixo das abscissas, o tempo 
        de reverberação medido em segundos. As três curvas de caimento da 
        reverberação estão aí representadas, com diferentes EDT, apesar 
        de possuírem um mesmo RT60. A 
        curva superior possui um EDT maior do que o correspondente RT60; 
        a curva do meio, que é uma reta, o EDT é igual ao RT60 
        e; na curva inferior, o EDT é menor do que o RT60. 
        Analisem um pouco e procurem entender por vocês mesmos estes parâmetros. 
        Não é difícil percebermos o que eles estão mostrando.
 
        Que volume uma sala 
        ideal deverá ter? 
                 
        Quando  falamos da nossa sala, 
        normalmente mencionamos a sua largura e o seu comprimento, imaginando já 
        tê-la definida. Porém, apesar do comprimento e da 
        largura serem muito importantes, a altura também tem grande relevância. 
        Desta forma, o primeiro parâmetro mais importante é, sem dúvida alguma, o 
        volume da sala. O volume é primordial! E aqui vem um conceito relevante:
        quanto maior for o volume do ambiente, melhor reprodução sonora poderá 
        ser obtida.Aqui alguém já poderá me 
        perguntar se as medidas em si são importantes. Sem dúvida alguma, são 
        muito importantes. Existem relações de medidas que são muito ruins para 
        salas com grandes volumes e também existem relações muito ruins para 
        salas pequenas, é verdade, mas temos também uma grande relação de 
        medidas que são boas e até excelentes para as nossas salas. Porém, em se 
        tratando do volume, quanto maior for, melhor! Mas isto não aumenta o RT60 
        em demasia? Pode até ser que precisaremos de um tratamento acústico 
        maior, porém o resultado sonoro final será, com certeza, melhor do que se 
        estivéssemos lidando com uma sala de volume menor. O volume maior traz 
        um palco sonoro maior, um realismo na reprodução que pode ser muito mais 
        acurado. Traz também uma outra grande vantagem, que é a 
        redução da problemática das ondas estacionárias que, na minha opinião, é 
        o “pé de Aquiles” das salas pequenas. Mas, este assunto, de ondas 
        estacionárias, vamos tratar em uma série de artigos exclusivos, devido à 
        sua 
        grande complexidade.
 Como é um pouco vaga esta afirmação 
        de que quanto maior o volume melhor para nós, vamos lhes dar uma idéia de volumes 
        pequenos, médios e grandes. Por exemplo, consideramos uma sala de 3m X 4m X 4,16m, com 
        um volume em torno de 50m3, como uma sala de pequeno porte. 
        Até um volume em torno de 100m3, vamos considerar a sala como pequena. A 
        partir daí, até 200m3, consideraremos como sala média e acima disto  
        consideraremos as salas como grandes. Estes são valores estimados e aproximados, 
        somente para vocês 
        terem uma idéia geral do volume. O tratamento acústico é diferente para 
        uma sala pequena e para uma sala grande. Enquanto que, na sala pequena, 
        as ondas estacionárias são mais problemáticas, nas salas grandes, o tempo de 
        reverberação, entre outros parâmetros, exige maiores cuidados técnicos.
 
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        Como se pode verificar por 
        estatística, a maioria das 
        nossas 
        salas é composta de espaços pequenos, onde a problemática das ondas 
        estacionárias é maior do que o problema do tempo de reverberação. 
        Acontece, porém, que grande parte destas salas não possui tratamento 
        adequado para as estacionárias, permanecendo então aquele grave 
        retumbante, embolado e indefinido, que costumamos chamar 
        de “grave de uma nota só”.
 
        Quando ouvimos 
        música, o que ouvimos? 
                 
        Imaginem agora todos nós na Sala 
        São Paulo, ouvindo os acordes da orquestra sinfônica do Estado de São Paulo. 
        Visualizem a orquestra completa tocando. O que realmente nós escutamos, quando ouvimos música em uma sala de 
        concerto? Ouvimos os instrumentos 
        tocando juntamente com o tempo de reverberação desta sala RT60
        e com o tempo do primeiro 
        caimento
        EDT, entre outros parâmetros que também dão um equilíbrio tonal 
        particular aos instrumentos. Esta orquestra tem um som específico, uma 
        sonoridade peculiar nesta sala, diferente do som que teria em outra sala 
        de audição com outras características distintas. Portanto, nós não estaremos  ouvindo 
        somente a orquestra, mas sim, estaremos ouvindo a sala também. Estaremos 
        ouvindo um conjunto musical composto de toda orquestra tocando e da Sala 
        São Paulo "tocando junto”. Não é possível separarmos as duas coisas. Forma-se uma 
        simbiose sonora que, dependendo da sala e da música tocada pela orquestra, 
        o resultado auditivo poderá ser espetacular, 
        particular e único.Existem extensos estudos, pelo 
        mundo a fora, com relação à 
        acústica de salas de concerto, com vasta literatura. 
        Inclusive, a STEREOPLAY alemã publicou recentemente um estudo a respeito das melhores 
        salas de concerto do mundo, distribuindo um CD contendo peças musicais 
        clássicas tocadas nas diferentes salas. E, meus amigos, como as 
        diferenças registradas foram grandes!!! Por isto, dizemos que a acústica das salas, 
        grandes ou pequenas, é a metade do resultado sonoro. Vamos aqui estudar 
        de forma abrangente a acústica de salas de concerto, não só para lhes 
        explicar melhor a sensação musical nestes recintos, mas também para 
        lhes mostrar a complexidade e a influência da acústica na música.
 Só para aumentar o entendimento 
        acústico, o EDT e o RT60
        possuem atributos musicais 
        diferentes e muito importantes para uma sala de concerto. Por exemplo, 
        o EDT, que é o tempo do primeiro caimento, representa 
        as primeiras reflexões na sala e influi preponderantemente sobre os 
        seguintes atributos musicais:
 
        ·       
        
        Transparência   -   representa nitidez, Clarity;·       
        
        Intimidade         
        -   envolvimento musical
 ·       
        
        Lateralidade      
        -   reflexões laterais
 
                   
        Estes são alguns atributos musicais onde o EDT tem maior influência. 
        Quanto ao RT60,
        ele influi nos seguintes 
        principais atributos: 
        ·       
        
        Espacialidade    -   envolvimento do ouvinte·       
        
        Calor musical     -   relação de graves (BR)
 ·       
        
        Brilho                  
        -  RT60 
        nas altas freqüências;
 ·       
        
        Reforço musical -  graves e agudos, Loudness
 
                   
        Como se pode ver, o assunto é bastante complexo e pode ficar mais 
        complexo ainda! Existem 
        estudos profundos sobre estes atributos musicais e também sobre alguns outros não abordados 
        aqui. A literatura é farta, inclusive com valores e definições numéricas, 
        para diminuir e cercar a subjetividade de todos estes parâmetros. Quem tiver interesse em se aprofundar no assunto de 
        salas de concerto recomendo, entre os vários livros existentes no mercado, 
        o livro “Architectural Acoustics – Principles and Design” de Madan 
        Mehta, Jim Johnson e Jorge Rocafort. Vamos, porém, neste espaço, 
        dar apenas uma noção geral destes principais atributos musicais,  
        com a intenção de mostrar a profunda influência que o ambiente tem sobre 
        a reprodução musical, a ponto da sala definir, de forma preponderante, a 
        qualidade sonora desta reprodução musical.Vamos, então, ao 
        primeiro item, que é a transparência. Podemos chamá-la também de 
        nitidez, definição ou de inteligibilidade. A transparência  aumenta com EDT 
        curtos. Os americanos também a chamam de Clarity.
 Vejam abaixo os 
        gráficos elaborados com a fala da palavra " MU-SI-CAL", em duas salas 
        distintas (A e B), com diferentes RT60,
        com decaimento linear de 
        2,0s e 0,4s respectivamente, de forma que, nestas duas salas, o 
         EDT 
        é igual ao RT60.
        Esta nossa análise envolve o 
        
         EDT, 
        pois a parte mais importante é a 
        queda dos primeiros 10% da intensidade inicial do som (que no caso é 
        igual a 70dB, conforme os gráficos). Vejam o que acontece na sala A, com fala normal e RT60 
        igual a  2,0s: após o pronunciamento da primeira sílaba "MU", a 
        intensidade do som cai um pouco, digamos para 68dB (nível de mascaramento) e 
        aí a 
        próxima sílaba "SI" já é pronunciada. A partir deste ponto as duas 
        sílabas se misturam e a inteligibilidade fica muito reduzida. Quando a 
        última sílaba "CAL" é pronunciada, a inteligibilidade já se torna muito pequena, 
        pois a mistura das três sílabas atinge todo o ambiente. Para que a 
        inteligibilidade aumente, é necessário que o nível de mascaramento seja o 
        menor possível. Uma alternativa para melhorar a inteligibilidade seria reduzir 
        o EDT, (que neste caso é igual ao RT60), 
        digamos para 0,4s, como nos é mostrado no gráfico do meio, referente à 
        sala B. Vejam que agora o nível de mascaramento é menor e está próximo do valor de 65dB e 
        aí a 
        inteligibilidade é maior. Uma outra forma de se aumentar a inteligibilidade 
        da sala A, com 
        o seu RT60 
        = 2,0s, é falar mais devagar, de forma mais pausada, pois o nível 
        de mascaramento se tornará menor (gráfico da direita).
 É isto que acontece 
        em igrejas e recintos grandes, onde não foi trabalhado o EDT. 
        Este aspecto, que estamos aqui relatando, vale para discursos e também para música, em recintos grandes. Por 
        estes exemplos, podemos concluir que as melhores 
        salas de concerto possuem EDT curtos.
 
         
                  
        A intimidade (Intimacy) é 
        a impressão subjetiva do tamanho da sala. Salas menores, normalmente 
        retangulares e estreitas, como a Boston Symphony Hall (projetada 
        por Sabine em 1900) e a famosa
        Grosser 
        Musikvereinsaal em Viena são consideradas salas intimistas. Salas mais 
        estreitas criam um EDT mais curto e melhoram este atributo 
        musical. Evidentemente, existe um valor ideal para cada volume em 
        questão. Salas mais largas criam eventos musicais mais distantes, menos 
        envolventes.A lateralidade é 
        conseqüência também das primeiras reflexões das paredes laterais, com um
        EDT curto. Isto explica o porquê das salas mais antigas, estreitas, 
        possuírem normalmente excelentes acústicas.
 Quanto ao RT60, 
        a situação já é inversa. Normalmente RT60 
        mais longos trazem uma espacialidade maior, com maior 
        envolvimento do ouvinte.
 O calor musical (bass 
        ratio = BR) é obtido procurando-se aumentar o RT60 
        em baixas freqüências, acima do RT60 
        das médias, com um resultado muito agradável na audição ao vivo.
 Quanto ao brilho, em salas 
        de concerto, é exigido um cuidado todo especial. Como a maioria dos materiais 
        de construção já absorve freqüências acima de 2KHz e como o próprio ar 
        já atenua freqüências acima deste valor, é muito difícil, em salas grandes, 
        se 
        obter um bom brilho. Por isto, o uso de carpetes e materiais similares, em 
        salas de concerto, deve ser realizado com muita parcimônia. Na maioria 
        das salas, porém, o RT60 
        já sofre um decréscimo à medida que as freqüências sobem.
 O reforço musical, que na 
        verdade é o calor musical com o brilho, representa a 
        tentativa de dar à sala de concerto um certo loudness que 
        transmita ao ouvinte uma sensação musical mais intensa.
 Como podemos ver, o RT60 
        em salas de concerto deve ser mais longo. Portanto, de forma geral, as 
        melhores salas de concerto possuem um EDT curto e um RT60
        longo. Naquele gráfico acima, onde 
        explicávamos e definíamos o RT60, 
        a melhor curva para salas de concerto, então, é a curva inferior, com 
        rápido decréscimo da intensidade do som logo de início, dando um baixo EDT e em seguida 
        um decréscimo mais lento, dando um longo RT60.
 O gráfico do RT60 
        para todas as freqüências, em uma sala de concerto, também não é plano. 
        Normalmente é desejável ser mais alto em baixas freqüências, (onde as ondas 
        estacionárias estão abaixo do campo auditivo humano, devido ao tamanho da sala), caindo para um patamar mais 
        baixo nas freqüências dos médios  e, a partir daí, o RT60
        declina nos agudos, como pode 
        ser visto abaixo, no gráfico  de famosas salas de concertos.
 
         
                   
        Como vocês podem ver no gráfico, a variação do RT60 
        nas diversas salas de concerto, apresentadas acima, é grande e por isso 
        mesmo a sonoridade de cada uma delas é muito diferente da captada nas outras. 
        Vejam que os médios estão 
        mais pronunciados na maioria delas, o que não é o ideal. Apenas duas 
        salas seguem a tendência que comentávamos 
        acima, ou seja, baixas freqüências com RT60
        mais elevado e nas altas 
        freqüências, a 
        partir de 2000Hz, todas elas  já com uma queda suave do RT60, 
        como havíamos analisado acima, o que indica que estas são as melhores, 
        acusticamente falando.  O RT60 
        está variando em uma faixa grande, de 1,50 segundos até 3 segundos. Os 
        gráficos de EDT podem chegar a variar muito em relação aos de RT60, 
        mas infelizmente não consegui nenhum  para lhes mostrar. 
        Resumo 
                   
        Fizemos aqui uma abordagem sobre a acústica de salas de concerto, 
        onde mostramos e definimos o que vem a ser os RT60
        e os EDT. Mostramos a grande 
        influência que o ambiente tem sobre o atributo musical. Evidentemente, devido a isto, 
        algumas salas são mais apropriadas para 
        tocarem certos tipos de musicas do que outras. No seio 
        da própria musica clássica, existem salas mais  próprias para o 
        barroco, por exemplo, ou para o romântico, do que outras. De forma 
        simplificada, isto depende do ritmo da música, mais lento ou mais rápido 
        e também da 
        variação do volume sonoro da própria música, onde então os 
         RT60 
        deverão ser diferentes para conseguirmos a melhor sonoridade possível 
        para cada caso.Abaixo mostramos outro gráfico, com os RT60 
        próprios para: uma sala de concerto para música sinfônica, outro para 
        uma sala de 
        música de câmera e outro para uma sala normal, executada sem nenhuma orientação 
        especial para acústica. Estas três salas, como vimos, devem tocar de forma muito 
        diferente. Onde o calor musical será maior? Haverá diferenças de brilho? Deixo 
        as respostas por conta de vocês, para que possam refletir um pouco mais.
 
          
         
                 
        Já o gráfico abaixo, mostra os tempos de reverberação dos principais 
        ambientes existentes como: salas de concerto, que nós vimos acima, salas 
        para órgão, auditórios 
        para múltiplos usos, teatros e salas de aula em função do volume. No eixo das ordenadas 
        estão os tempos de reverberação e no das abscissas os volumes das 
        salas pois, como vimos, o RT60 depende do volume. 
        Cada tipo de sala possui valores ideais de RT60 
        e de EDT. Inclusive a quantidade de literatura sobre o assunto e 
        também de 
        normas correlatas para cada sala é muito grande.      
          
         
                 
        Como vocês vêem, devido à grande interação 
        existente entre os sons e o ambiente, a execução da música ao vivo tem que levar em conta a 
        acústica apropriada para os objetivos musicais propostos, seja  para uma 
        orquestra, para um conjunto de música de câmera, ou então, por exemplo, para 
        um coral, uma capela, um conjunto de jazz, ou um conjunto de música 
        popular brasileira, como a nossa MPB. Cada uma destas propostas musicais exige 
        parâmetros acústicos próprios, preparando os ambientes para 
        proporcionarem os melhores 
        resultados e atributos musicais nas várias apresentações e shows. Este 
        resultado final otimizado e simbiótico pode implementar todo o encanto  
        musical!No próximo artigo, vamos iniciar um estudo mais profundo sobre salas que realizam 
        reproduções musicais. A problemática é totalmente diferente da que vimos 
        agora, pois os 
        objetivos, como veremos, são outros. Uma coisa é a música ao vivo, com o encanto da simbiose entre os músicos, os instrumentos e o ambiente, e outra, bem 
        diferente, é reproduzir eletronicamente este evento musical em nossas salas.
 Desejo a todos uma sala 
        corretamente tratada, para que vocês possam ouvir e desfrutar do que realmente 
        foi gravado!!! Uma excelente audição e aquele abraço!!!
 
        
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